Comecei o meu percurso académico na Escola Artística António Arroio, em Lisboa, com a especialização em Design de Produto, posteriormente ingressei na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e com o intuito de aprofundar conhecimentos, e dar continuidade ao meu projeto final de licenciatura, onde explorei a ténue fronteira entre design e a alimentação, recebi uma bolsa de estudo na Scuola Politecnica di Design, em Milão, no mestrado de Food Design. Neste contexto tive a oportunidade de perceber o quão próximo estes dois mundos são e as poucas limitações de intervenção que o design apresenta no contexto atual.
Passei por experiências laborais muito diferentes desde o versátil Studio Joana Astolfi, à disruptiva produtora audiovisual Kinéma, em Lisboa, ou a inovadora empresa de bicicletas Vanmoof, em Amsterdão. Estes variados contextos enriqueceram o meu léxico de ferramentas, passando pela direção de arte, ao design gráfico ou o design de experiências, e sinto que fizeram de mim um profissional e uma pessoa mais completa.
Atualmente encontro-me de volta ao design de produto através da Wewood e da sua nova marca de mobiliário flat-pack, a Backhome.
O que te fez escolher ser Designer?
O videojogo The Sims influenciou uma geração onde me incluo e fez-me ingressar na Escola Artística António Arroio, e tive oportunidade de contactar com as mais diferentes oficinas e tecnologias com a aspiração de me tornar arquiteto. Ao frequentar o primeiro ano da licenciatura em Arquitetura, apercebi-me da grande diferença de escala, em comparação com a escala dos objetos. Senti falta plasticidade que os mais diversos materiais apresentam, como a madeira, a cerâmica ou os têxteis e decidi mudar para as Belas-Artes em Lisboa.
Qual é a tua inspiração?
A maioria dos designers aspira mudar o mundo para um lugar melhor através das mais diferentes metodologias, e para uma pequena mudança que seja aconteça a inspiração é sem dúvida as pessoas e como estas interagem e sociabilizam. Este lado social tem para mim um grande relevo e tento assim conjugar o saber fazer da cultura material com as novas tecnologias, pensando sempre no objetivo final de o resultado ser usado por todos.
Como descreves a tua abordagem no Design?
Considero a minha abordagem silenciosa. Silenciosa com o intuito de não criar mais ruido visual através de uma linguagem relativamente simples e tentando sempre incorporar detalhes pertinentes.
Qual é o teu processo criativo quando crias uma peça?
Com o passar do tempo o processo de abordar um projecto de design torna-se intuitivo e dou por mim a desenvolver os diferentes briefings com uma estrutura semelhante. Inconscientemente, a receita de arroz verde, de Bruno Munari, continua muito presente no meu modo de trabalhar e de abordar um novo desafio.
Como Designer, qual consideras ser a tua maior skill?
A curiosidade pelo mundo que nos rodeia e que me ajuda a desenhar com maior consciência.
E como referi inicialmente, ao ter experienciado áreas tão diferentes como a produção audiovisual, o design gráfico ou o desenho de eventos gastronómicos, permitiram-me adquirir conhecimentos tão diversos, que hoje posso ver esta ideia de versatilidade como um dos meus pontos fortes.
Qual é, para ti, o futuro do Design?
Acredito num contexto onde o design continuará a fornecer uma visão de 360º sobre os seus mais diversos campos de intervenção. Acompanhará a cada vez mais rápida transformação tecnológica e social, através de colaborações com engenheiros ou cientistas, introduzindo novos materiais mais sustentáveis, mais conscientes e mais duradouros, ou interações com sociólogos ou antropólogos, de modo a criar sistemas sociais mais colaborativos e justos. Penso também existir uma crescente valorização de técnicas tradicionais com o intuito de dar continuidade de um saber fazer que não se pode perder.